quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Autismo e possibilidades de intervenção comportamental

O cinema americano há tempos apresenta filmes nos quais o transtorno autista aparece como foco principal, inclusive mostrando personagens com alta capacidade para decifrar códigos secretos ou como testemunhas
de homicídios ou outros crimes. Mas, na realidade, fora das telas dos cinemas, ainda é grande o desconhecimento do que é o autismo, como este se caracteriza e apresenta-se e quais as modalidades de tratamento atualmente disponíveis e com bons índices de êxito.

O transtorno e seu histórico

O autismo foi primeiramente descrito pelo médico Leo Kanner em 1943, tendo este autor descrito em seu artigo, datado também deste ano, onze casos de crianças autistas que acompanhou sendo que estas apresentavam características semelhantes entre si. No ano seguinte, Hans Asperger escreveu o artigo intitulado “Psicopatologia autística da infância”, no qual também descreveu casos de crianças com quadro semelhante às de Kanner.

Em 1961, Ferster realizou estudos intentando compreender o autismo e as crianças que apresentavam tal síndrome, numa época em que a maioria dos profissionais considerava que esta era causada por um transtorno emocional subjacente. Ferster sugeriu, então, que o autismo seria resultante de uma interação pais/filhos inadequada e precária, que levaria a uma falha na aprendizagem destas crianças (Loovas e Smith, 2005). Hoje em dia tal teoria não é defendida, porém acabou por lançar as bases da compreensão de que a conduta autista pode ser entendida e tratada através dos princípios de aprendizagem da teoria behaviorista.

Desde então, outros estudos vêm sendo realizados acerca da síndrome autística, porém ainda hoje suas causas são desconhecidas. O transtorno autista é enquadrado na classificação do DSM IV dentro dos transtornos invasivos do desenvolvimento e na CID 10 é classificado como um transtorno global do desenvolvimento. Logo, este transtorno caracteriza-se por um desenvolvimento alterado ou anormal na criança, manifestando-se antes dos 3 anos de idade, sendo este um dos critérios para diagnóstico deste quadro.

Em relação às causas, motivo que gera ansiedade nos pais que recebem o diagnóstico autista de seus filhos, pode-se dizer que a ideia hoje mais aceita é de que é uma síndrome comportamental possivelmente resultante de um quadro orgânico, e com provável origem genética. Além disso, não se pode esquecer que o indivíduo é uma totalidade, e dentro do referencial comportamental, este indivíduo é resultante da interação do biológico com o ambiente, sua história de aprendizagem e desenvolvimento, das contingências a que este indivíduo está exposto na sua história de vida. Logo, não seria apenas o biológico que se manifesta, mas a interação de todo o aparato orgânico/genético com o ambiente que cerca o indivíduo.
Segundo critérios de diagnóstico do DSM IV e da CID 10, o quadro do transtorno autista inclui perturbações características da interação social, da comunicação e do comportamento. As duas primeiras e uma dificuldade no uso da imaginação caracterizam o que Wing e Gould (1979) denominam a tríade constituinte da síndrome autista, devendo estes três aparecerem juntos. Conforme ressalta Mello (2003, p. 12), “a tríade é responsável por um padrão de comportamento restrito e repetitivo, mas com condições de inteligência que podem variar de retardo mental a níveis acima da média”.

Consoante Frith (1991, apud Ballone, 2005), as crianças autistas possuem também dificuldade para se colocarem no lugar do outro, para então compreender o que a outra pessoa pode estar sentindo. Tal comportamento empático faz parte das habilidades sociais que uma pessoa deve possuir para manter adequados níveis de interação interpessoal, o que estando prejudicado, leva a maiores prejuízos de ordem social, como os identificados no autista.

Os critérios de estudo do autismo são bastante diferentes e por isso têm-se encontrado na literatura números díspares em relação à incidência do autismo na população em geral. O que se sabe com certeza é que este número é maior entre meninos do que entre meninas. De forma ampla, pode-se dizer que estes números flutuam de 5 a 15 casos em cada dez mil crianças, sendo que estes números estão em dependência dos diferentes autores dos estudos, já que por vezes o enquadre de uma criança no diagnóstico autista pode assumir caráter subjetivo (Ballone, 2005).

Não obstante todo o rol de desajustes descritos para o diagnóstico de autismo, deve-se levar em conta que as crianças autistas também apresentam diferenças entre si, que podem ser bastante marcadas (Lovaas e Smith, 2005), e que por este motivo o tratamento deve sempre ser avaliado e esquematizado a partir das peculiaridades apresentadas pela criança em questão, enquadrando a técnica ao quadro do paciente e não tentando enquadrar a criança a uma técnica de maneira generalista (Echegaray, García, Bujedo, Domínguez, 2002).


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